Quem Tem Sede
No livro O Saara Desvendado, William Langewiesche conta a história de um algeriano chamado Lag Lag e seu companheiro, cujo caminhão quebrou no meio da travessia de um deserto. Durante as três semanas que esperaram por resgate, quase morreram de sede.
Mesmo debaixo do caminhão, construíram uma trincheira para que não fossem atingidos pelo sol. Dia após dia esperando, com o corpo já desidratado, queriam beber qualquer coisa que matasse a sede. Tinham alimento, mas não comiam, com medo de que a sede fosse intensificada. No caso de Lag Lag, a sede comum se transformou em excessiva sede permanente. Há diferentes nomes para o comportamento que a pessoa adota a fim de satisfazer a sede, mas não existe nenhum que descreva matar a sede com água do radiador. O único nome que descreveria essa sede é “polidipsia”, ou seja, “sede excessiva que leva a pessoa a beber qualquer coisa”. Foi o que Lag Lag e seu companheiro começaram a beber, em realidade: veneno.
Tenho sede – é a voz do mundo; é a voz do marinheiro perdido no mar; é a voz do viajante no deserto. O próprio Jesus disse: “Tenho sede” (Jo 19:28).
Durante uma das Festas dos Tabernáculos, Jesus Se apresentou no último grande dia da festa. À medida que a multidão enchia o templo, cansada pelo longo período de festividades, podia presenciar o derramamento da água sobre o altar, ritual que lembrava o período durante o qual Israel enfrentou sede no deserto. Jesus então subiu no alpendre do templo e bradou: “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba” (Jo 7:37).
Jesus estendeu o convite para todos. Não há nenhuma qualificação acadêmica e nem social para atender o carente. É para jovens, crianças e adultos. Ele estava dizendo: “Eu posso satisfazer seus anelos, sonhos e necessidades.” “Quem beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede” (Jo 4:14).
O conceito de sede é usado para mostrar nosso vazio interior, para descrever um desejo, uma ânsia que temos dentro de nós. Alguma insatisfação indefinida, uma inquietação crônica. Uma sede por reconhecimento e atenção, paz e significado na vida.
“O brado de Cristo à alma sedenta ecoa ainda, e apela para nós com poder ainda maior do que aos que o ouviram no templo, naquele último dia da festa. A fonte está aberta para todos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 454).
Quem Somos nós Para Julgar?
Muitos conhecem a história daquele homem que, num dia chuvoso, saía para seu trabalho e descobriu que todos os guarda-chuvas que estavam em casa precisavam de conserto. Através dos anos, os filhos tinham crescido, deixando um número de guarda-chuvas que a família ainda possuía. Na primeira busca, encontrou quase uma dúzia. Sem muita vontade, tomou alguns deles para levar para consertar.
No fim do dia, passou numa lanchonete antes de voltar para casa e, ao sair, pegou por engano um guarda-chuva que não era o dele. Antes que ele chegasse à porta, o dono do guarda-chuva o alcançou e pediu-o de volta. O homem ficou embaraçado e pediu desculpas.
Saiu dali, foi à loja de consertos, pegou os guarda-chuvas consertados e tomou um ônibus. Duas paradas à frente, entrou um senhor que logo disse: “Bem, vejo que você foi bem-sucedido hoje.” Era o homem cujo guarda-chuva tinha sido pego por engano no restaurante. Nenhuma explicação por parte daquele que consertara os guarda-chuvas convenceria seu acusador de que ele era qualquer coisa menos um ladrão de guarda-chuvas.
Essa é mais uma demonstração de como atribuímos motivos e saltamos rapidamente para conclusões que não estavam na ação nem na intenção da pessoa.
No sermão do monte, Jesus fez uma afirmação corajosa e um mandado difícil: “Não julguem, e vocês não serão julgados.”
Podemos usar a palavra “julgar” de duas maneiras: pode ser o ato de discernir ou diferenciar entre duas coisas. Falamos sobre julgar entre o bem e o mal, o certo e o errado. Mas não é a isso que Jesus está Se referindo.
Os judeus, por exemplo, se viam melhores e mais aceitáveis a Deus do que os gentios – especialmente os fariseus, envoltos em seu manto de justiça própria.
Posso considerar uma pessoa e/ou grupo como errados, mas se essa percepção me levar a desvalorizar a pessoa e/ou o grupo, também estou errado.
“Não se ponham como norma. Não façam de suas opiniões, seus pontos de vista quanto ao dever, suas interpretações da Escritura, um critério para outros, condenando-os em seu coração se não atingem seu ideal” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 124).
Como nenhum de nós está isento de argueiro ou trave no olho, é melhor não falar, não julgar e, antes, dar uma olhadinha em nós mesmos.
O Fator Amizade
Jesus amava a todos, mas tinha Seu grupo de doze, e dentro dos doze, três com os quais mais Se associava: Pedro, Tiago e João. Quando estava no Jardim do Getsêmani, Ele necessitou de apoio humano, compreensão, encorajamento e conforto. Jesus disse: “Estou triste. Preciso da companhia de vocês.” Ele não disse: “Vou ser crucificado, mas não estou preocupado e nem um pouquinho com medo. Está tudo bem.” Em lugar disso, pediu que orassem por Ele.
Conhecidos nós temos às centenas: aqueles que foram colegas de classe ou mesmo aqueles com quem nos encontrávamos casualmente no campo de esporte. Mas não causaram muito impacto em nossa vida.
Conhecidos também são aqueles com quem trabalhamos, com quem assistimos a um evento, ou com quem viajamos. Esses, por assim dizer, entraram no barco e depois saíram. São aqueles que ficam no barco quando o mar está calmo, o sol brilhante e a brisa suave. São chamados “amigos de tempo bom”. Porém, quando chega a tempestade, pulam do barco.
E existem aqueles que são amigos verdadeiros; entram no barco se o mar estiver calmo. Na tempestade, também estão lá. Com ventania e relâmpago, ficam com você até passar a tempestade.
Apropriadamente, a versão bíblica The Message traduz: “O amigo ama com qualquer tipo de tempo” (Pv 17:17).
Num concurso de frases sobre o que significa ser o melhor amigo, a mais votada foi: “Amigo é alguém que entra quando todo mundo sai.” Você tem pelo menos uma pessoa por perto a quem pode se dirigir quando está triste? Se você quiser saber quem são seus amigos, cometa um erro ou uma grande gafe. Aí você vai ver o que acontece. Eles desaparecem, fazem questão de permanecer longe de você. E seus inimigos, então, desejarão vê-lo de longe.
O verdadeiro amigo não o justifica quando você erra, nem é indulgente. Se necessário, o confronta na medida certa, como diz um provérbio: “Não use o machado para tirar uma mosca da testa do seu amigo.”
O verdadeiro amigo sabe confortar você e tirar as arestas, como diz Provérbios 27:17: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro.” O verdadeiro amigo tem uma influência “afiadora”. Por causa dele, você será uma pessoa melhor.
Esse encontro do ferro com o ferro pode ajudar as pessoas a ver suas ideias com nova claridade, refinando, modelando, melhorando os insights e desafiando o crescimento, estimulando seu pensamento.
A Corrida Cristã
Até hoje se discute se Jim Peters, por ocasião dos jogos do Império Britânico realizados no Canadá, em 1954, realmente bateu o recorde de maratona. Peters entrou no estádio 15 minutos ou mais de cinco quilômetros antes do corredor que o seguia. Acontece que, logo que entrou no estádio, cambaleou e caiu. Levantou, deu um passo e caiu novamente. Levou 15 minutos para avançar os últimos cem metros. Continuou caindo antes de atravessar a linha final. Mas a linha final que ele ultrapassou era a linha errada, que estava sendo usada para outra competição. A linha de chegada da maratona estava mais adiante.
Na passagem do texto de hoje, a vida cristã não é comparada a uma corrida de velocidade, mas a uma maratona. Nas corridas de velocidade, você corre uma distância curta (100 m, 400 m, 800 m e 1.500 m) o mais rapidamente que puder, e a velocidade é o item decisivo. Mas, na maratona, a perseverança é decisiva.
Os maratonistas fazem seu treinamento por anos, seguindo prescrições quanto à dieta e ao descanso. Além disso, cuidam do kit da corrida, que deve conter roupa leve e tênis apropriados. E eles mencionam que há dois momentos decisivos na corrida: o primeiro é logo no início. A corrida começa, a multidão grita e, como você se sente bem, a tentação é correr mais rápido em menos tempo. Então, você gasta energia e pode não ter o suficiente para o restante da corrida. O segundo momento decisivo é na metade do trajeto. Você percebe que ainda tem que correr a mesma distância que já correu, mas está cansado. Chega um momento em que você está no fim da sua resistência e não tem certeza de que vai dar sequer um passo mais.
Outro item decisivo é o excesso de peso. Quando olhamos para os corredores, descobrimos que todos são magros e ágeis. O excesso de peso pode ser a diferença entre a derrota e a vitória.
Existem muitas coisas para nos desviar a atenção. Mas Jesus já marcou todo o trajeto com bandeiras. Cada trajeto é único, diferente.
O que os maratonistas mais desejam ver? A fita de chegada. Parece que essa visão lhes dá novo ânimo para a arrancada final, mesmo que estejam no fim das forças.
O cristão deve correr com os olhos postos em Jesus. É Ele que está na linha de chegada para dar um abraço nos vencedores.
Amigos Quebra-tetos
Ele pensava: “Quando eu tiver um corpo sadio, vou andar, correr e trabalhar. Quem sabe, vou me casar e brincar com meus filhos.” No entanto, até ali sua contribuição para a sociedade tinha sido zero. O que ele tinha era apenas uma maca de 2x1 e alguns amigos que lhe contavam as histórias que corriam sobre Jesus. A ideia deles era: “Nosso amigo tem que conhecer Jesus. Ele precisa de um milagre e mudança de vida. Temos que levar os dois a se encontrar.”
John Ortberg, no livro Somos Todos Normais?, chama esse grupo de quatro amigos de “Fraternidade da Maca”. Se não fosse esse grupo, o paralítico teria continuado no chão, sem poder demonstrar todo o seu potencial.
Às vezes, temos que dar um empurrão ou levar nossos amigos quase à força para fazer aquilo que é para o bem deles. A ideia desse grupo de amigos, então, era simplesmente levá-lo até Jesus.
Naquele dia, Jesus estava ensinando na casa de Pedro (cf. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 267). A sala da casa estava cheia. Havia gente de pé, na janela e ao redor da casa. O que fazer com o homem que estava sendo levado na maca?
Os quatro amigos não eram o tipo de gente que desanima facilmente diante de um obstáculo. Não disseram: “Ihh... Tem muita gente. Não vai dar. Não vamos conseguir. Vamos tentar outra hora.” Nem disseram: “Vamos deixar o pessoal ir embora e depois com calma a gente faz tudo.” Você sabe como é. Alguns inventam desculpas para não participar, mas eles tomaram iniciativa de fazer o que fizeram naquele momento. Deixaram de lado a formalidade de entrar pela porta da frente, se esqueceram de que Jesus era o Rabi e quebraram o teto. Formaram o “grupo dos quebra-tetos” e desceram o amigo até a presença de Jesus.
Como seria bom se houvesse em colégios, comunidades e igrejas grupos de pessoas que se unissem para ajudar a quem precisa! Ajudar um estudante a pagar os estudos; ajudar um desempregado a conseguir emprego; doar uma cadeira de rodas para alguém; realizar melhorias num departamento da igreja ou o que quer que se configure como uma necessidade.
Não importa como os chamemos: “quebra-tetos”, “demolidores de telhados” ou “fraternidade da maca”, o mais importante e gostoso mesmo é reunir amigos e fazer alguma coisa.
Descanso e Renovação
Mesmo consciente do peso do trabalho que repousava sobre Seus ombros, Jesus ocasionalmente Se ausentava com Seus discípulos do lugar em que estavam trabalhando para um retiro e uma quebra no ritmo das atividades. Dava a Si mesmo um descanso para estar com esse grupo especial que O acompanhava, e, como era tradicional na cultura judaica, tomar refeições com calma, recheadas com muita conversa. Queria estabelecer uma regra de equilíbrio entre tempo para os outros e tempo para Si mesmo.
E qual era o resultado? Desses momentos de retiro, o grupo voltava com pilha nova e bateria recarregada para seguir o trabalho. “Entre o vaivém da multidão [...], aquele que é assim refrigerado será circundado de uma atmosfera de luz e de paz. Receberá nova dotação de resistência física e mental. Sua vida exalará uma fragrância e revelará um poder divino que tocarão o coração dos homens” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 58).
Não apenas nesses períodos ocasionais de retiro, mas também em nosso descanso diário podemos renovar nossa energia física e mental.
Os estudiosos do comportamento humano dizem que antes da invenção da luz elétrica, a maioria das pessoas dormia dez horas por noite. Hoje, a média está em sete horas e meia. Você pode ficar com Einstein que dormia nove horas por noite, ou com Thomas Edson que dormia entre quatro a cinco horas. Essas naturalmente são as exceções, não a regra.
Nós começamos o dia com uma lista interminável de tarefas, cada uma puxando para diferentes direções. Se pudéssemos, encolheríamos cada uma delas para que possam caber dentro do tempo que temos disponível. Isso sem contar os muitos prazos para serem cumpridos, chamadas telefônicas para retornar, etc. Deus, que é o autor do tempo, sabe muito bem que vamos ser dominados por ele se não planejarmos à Sua maneira. Ellen White deixou o seguinte conselho: “Não é sábio estar sempre sob a tensão do trabalho ou agitação, mesmo no ministrar às necessidades espirituais dos homens. [...] Não tenteis amontoar num dia o trabalho de dois. Afinal, verificar-se-á que os que trabalham cuidadosa e sabiamente terão realizado tanto como os que expõem de tal modo sua resistência física e mental, que não possuem mais reservas de onde tirar no momento necessário” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 243, 244).
Certamente, esse é um bom conselho a ser seguido!
Deus Aguarda Nossa Adoração
“Como é que foi o voo?” Fazemos essa pergunta quando vamos recepcionar alguém no aeroporto, como ponto inicial de conversa. A resposta que recebemos é: “Tranquilo! Bem! Normal!” Ninguém faz questão de ter passado por um voo turbulento, com sacudidas que nos enchem de susto, só para ter o que contar depois.
O autor Max Lucado escreve: “As pessoas no avião e as pessoas nos bancos da igreja têm bastante em comum. Foi bom, costumamos dizer.”
Quando se trata da igreja, você aguarda com alegre expectativa a oportunidade de assistir aos cultos? Será que podemos afirmar juntamente com Davi: “Alegrei-me com os que me disseram: ‘Vamos à casa do Senhor’” (Sl 122:1)?
Quando falamos em adoração, diferentes coisas vêm à nossa mente. Podemos pensar em uma família reunida na hora do culto familiar. Imaginamos um ambiente agradável, com sons de órgão de tubos, vitrais nas janelas. Ou um grupo de jovens cantando “O Poder do Amor” ao redor da fogueira. E mesmo que haja muitas coisas que chamem minha atenção: a decoração, a música e os músicos, Deus é que será o objeto central da minha adoração.
Quando pensamos em adoração, temos em mente uma experiência de elevar nosso coração a Deus e sentir Sua presença. Nosso coração será tomado de um sentimento de gratidão ao meditar sobre quem é Deus, tudo o que faz por nós e o quanto nos ama.
Há satisfação pelo fato de ter assistido aos cultos? Ao voltar para casa, podemos dizer que realmente estivemos na presença de Deus?
Para nós que estamos vivendo no fim de todas as coisas, a Bíblia nos lembra da importância de reunir-nos em culto para adoração: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia” (Hb 10:25).
Seria bom perguntar: Que tipo de adoradores vamos ser no próximo fim de semana? Nossa adoração deve revelar a grandeza de Deus e o nosso coração estar cheio de louvor por todas as bondades que Ele nos dá.
Venham! Adoremos prostrados e ajoelhados diante do Senhor, o nosso Criador; pois Ele é o nosso Deus, e nós somos o povo do Seu pastoreio, o rebanho que Ele conduz. Salmo 95:6, 7Jesus lhes disse: “Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco”. Marcos 6:31Vieram alguns homens trazendo um paralítico numa maca e tentaram fazê-lo entrar na casa, para colocá-lo diante de Jesus. Lucas 5:18Livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta. Hebreus 12:1O amigo ama em todos os momentos. Provérbios 17:17Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados. Perdoem, e serão perdoados. Lucas 6:37No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-Se e disse em alta voz: “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba.” João 7:37
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